Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

Informe n.º 311

LÍDER DO POVO XUCURU É ASSASSINADO EM PERNAMBUCO

"Calaram uma voz mas não calarão a nossa luta". Esta manifestação indignada é do Povo Xucuru do município de Pesqueira, onde na manhã do dia 20 de maio o cacique Xucuru, Francisco de Assis Araújo - o Chicão, como era conhecido - foi assassinado. Ele foi emboscado por pistoleiros e morto com dois tiros na cabeça e dois nas costas, no bairro Xucuru daquela cidade, no Estado de Pernambuco.

Desde 1986 Chicão recebia ameaças de morte por sua luta em defesa da terra. O povo Xucuru, cuja população é de 7.500 pessoas, vive numa área de 2.000 hectares, mas seu território tem uma extensão de 27.555 hectares. O restante, 25.555 hectares, está invadido por 181 fazendas. No dia 16 de maio passado, os indígenas tomaram uma dessas fazendas, com 600 hectares, que havia sido irregularmente adquirida por um comerciante. Em 1995, o advogado da Funai, Geraldo Rolim da Mota Filho, foi assassinado a mando dos fazendeiros, por ocasião do início da demarcação física da área. Chicão era a principal testemunha deste assassinato.

O corpo de Chicão foi velado no bairro Xucuru e no dia 21 pela manhã transferido para a aldeia Vila de Cimbres, onde o bispo da Diocese de Pesqueira, Dom Bernardino Marchio, fez uma celebração. Após a celebração o corpo foi transladado para a aldeia Pedra D'Água, onde Chicão era cacique.

O sepultamento está marcado para sexta-feira, 22, na mata de rituais do povo Xucuru.

Lideranças indígenas de 56 organizações e 157 povos, participantes da V Assembléia da COIAB, divulgaram nota exigindo providências imediatas para os responsáveis por crimes e toda forma de violência contra os indígenas, bem como agilização dos processos em curso na Justiça e demarcação de todas as terras. Na nota, as lideranças repudiam os assassinatos do Cacique Chicão e do Kulina Miho, este último ocorrido no dia 09 de maio na aldeia Kumaru, município de Caetaú (AM). Miho Kulina foi morto a golpes de terçado e machado por um comerciante da localidade.

Brasília, 21 de maio de 1998.
Cimi - Conselho Indigenista Missionário