Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

ASSASSINATO DO CACIQUE CHICÃO NÃO DESANIMA A COMUNIDADE INDÍGENA QUE VAI CONTINUAR NA DEFESA DE SUAS ÁREAS

De: Fábio Araújo (1)

Emoção, revolta, lágrimas. O velório do cacique da tribo Xucuru, Francisco de Assis Pereira de Araújo, o Chicão, assassinado com cinco tiros na manhã de Quarta-feira, uniu toda a comunidade indígena deste município do agreste, a 126 do Recife. Desde as primeiras horas de ontem, centenas de índios se mobilizaram para prestar as últimas homenagens ao líder, que deverá ser enterrado à 8 h de hoje. Apesar da dor, todos adotavam o mesmo discurso: a luta pela demarcação das terras não pode parar.

O corpo de Chicão, que havia sido levado ao Recife para necropsia, no Hospital Getúlio Vargas, retornou a Pesqueira por volta da zero hora de ontem. Logo na chegada, centenas de pessoas já faziam vigília à sua espera. "Ele foi colocado na Capelinha dos Xucurus, bem em frente à casa de sua irmã, onde acontecera o assassinato. Foi velado por toda a madrugada, e de manhã cedo o levamos para a Vila de Cimbres, na Capela de Nossa Senhora das Montanhas", disse o índio Antônio Pereira de Araújo, vereador da cidade e primo legítimo do cacique morto.

Às 8 h, o corpo começou a ser levado para a aldeia de Pedra D’Água, onde Chicão tinha residência. Logo na entrada da reserva, uma cena emocionante: os índios e representantes de entidades ligadas à causa, que já haviam se dirigido à tribo, fizeram questão de carregar o caixão nos próprios ombros. A comitiva caminhou à frente de um comboio de carros, até a escola Procurador Geraldo Rolim, bem próximo de onde o líder morava. "O enterro vai ser na própria mata, a pedido dele. Chicão sempre pediu para descansar junto à natureza", revelou Antônio Pereira.

(1) EM: Diário de Pernambuco – Recife. 22 / 05 / 1998