Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

LIDERANÇAS INDÍGENAS FALAM SOBRE O CRIME

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"Estamos revoltados com o assassinato. A morte de Chicão é uma perda muito grande na luta que a gente trava em busca da demarcação das nossas terras. É mais um exemplo da falta de compromisso do Governo que precisa dar um basta nesta onda de violência".

(Maurício Guarani, líder dos Guarani, povo com cerca cinco mil índios, hoje ocupando áreas em sete estados, do Espírito Santo ao sul do país).

"Ele era um parente de luta muito querido e recebemos com tristeza a sua morte. Há três meses Chicão me falou que estava sendo ameaçado de morte e nada foi feito para evitar o crime. De uma hora para outra, um de nós poderá ter o mesmo fim".

(Chico Preto, liderança dos Apurinan, povo com cerca de dois mil índios, vivendo ao Sul do Amazonas)

"As nove tribos indígenas do Amazonas estavam reunidas em assembléia quando soubemos da morte de Chicão. Ficamos bastante abalados e mais tristes ainda quando o cacique Pedro Inácio, do povo Ticuna, disse que o destino do índio era a morte.

A gente luta, mas o Governo não reconhece as nossas organizações. Estamos encaminhando carta, assinado por 140 índios, ao ministro da Justiça e ao presidente da República para que os criminosos sejam presos. Este deve ser o destino daqueles que tiram a vida de um ser humano".

(Darci Marubo, líder dos Marubo, 1.500 índios que ocupam o Vale do Javari (AM), fronteira com o Peru).

"Recebi a notícia da morte na tarde de ontem (Quarta-feira) e fiquei bastante abalado. Chicão era uma grande liderança entre os Xukurus e tinha um papel importante na nossa luta em busca da demarcação das terras. Estive com ele várias vezes em Brasília. O que aconteceu com ele mostra bem a realidade vivida por nós que registramos o assassinato de 24 índios nos últimos dois anos. Os processos ficam emperrados na Justiça e nada acontece. Mas ao mesmo tempo que a morte nos faz infeliz, também reforça a união das organizações indígenas. A luta de Chicão não foi em vão".

(Jorge Terena, membro da Comissão de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil. Os Terena, hoje em 15 mil, ocupam terras no Estado do Mato Grosso do Sul)

(1) Jornal do Comércio – Recife. 23 / 05 / 1998