Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

LOCAL DO ENTERRO VIRA CEMITÉRIO DE CACIQUES DA TRIBO

(1)

Um ritual com a participação de 150 índios vestidos a caráter e dançando o Toré, em volta do caixão, marcará hoje, a partir das 8 h, o enterro do cacique Xukuru Francisco de Assis Araújo, o Chicão. Os Xukurus batem um bastão de madeira no chão e entoam cantos tristes em seus dialetos, assistidos por milhares de índios vindos de outras tribos de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte.

O local onde o cacique será enterrado fica no pé de uma serra, localizada na Aldeia Pedra D’Água, onde Chicão morava com a mulher e os filhos. Segundo o pajé da tribo, Pedro Rodrigues Bispo, 68 anos, no local, tido como sagrado pelos Xukurus, Chicão costumava acender uma vela e refletir, principalmente quando tinha decisões a tomar. "Ele fazia isto por horas seguidas", lembra o pajé, acrescentando que Chicão será o primeiro índio sepultado ali.

De acordo com o pajé, por diversas vezes o cacique havia manifestado o desejo de ser enterrado na área. "Chicão sempre comentava que, mesmo após a morte, não queria sair da aldeia e era seu desejo ser enterrado na reserva indígena", diz Bispo. Aos primeiros raios do dia, o pajé vai comandar o ritual do enterro. Além de cantar e chorar, os índios pedem para Tupã (Deus indígena) receber o cacique. "O local onde o líder Xukuru será enterrado a partir de agora servirá de cemitério para os caciques da tribo", revela o pajé. Chicão será enterrado numa cova que mede 2,20 x 1,0 metro e no túmulo será afixada uma lápide com inscrições da tribo.

(1) Em: Jornal do Comércio: 22 / 05 / 1998