De: Fabiana Moraes

Francisco Assis Araújo, o Chicão, era mais que um líder para a tribo Xucuru. Ele representava os ideais de uma força que a tribo tentava recuperar e a busca de uma cultura transformada em lenda. Chicão representava, principalmente, um incômodo por lutar pela terra que foi delegada ao seu povo. Sua morte monstra o perfil de um barril de pólvora formado por inércia, incompetência e descaso, que resultam na conhecida questão da demarcação da terra indígena.

Chicão possuía vários inimigos em Pesqueira. Para entrar em contato com o cacique, era preciso enfrentar muita desconfiança por parte dos índios de sua tribo. Numa entrevista realizada em abril, ele declarou estar acostumado à perseguição cotidiana. "Mas, no dia em que eu quiser, mobilizo toda a tribo e retomo tudo o que era nosso", disse.

O cacique não possuía moradia fixa e havia acabado de comandar uma invasão a uma área situada a 10 km de Pesqueira. "Vamos permanecer no local durante o tempo que for preciso. Nada pode nos tirar daqui", afirmou Chicão, que vivia há 28 anos com Zenilda Araújo, também chefe da tribo. Os Xucurus perdem um grande líder, e, em contrapartida, ganham mais um reforço na luta pelo espaço legítimo.