Até a próxima segunda, dia 17. Este é o prazo que os índios Xucurus, de Pesqueira, (situada no Agreste Setentrional, a 214 km do Recife) deram aos posseiros para saírem de suas terras - no alto da serra do Ororubá - ocupadas na década passada. Caso o ultimato não seja ouvido, eles prometem invadir o que seus antepassados conquistaram há muito tempo, sob inspiração de Tupã (Deus), na tentativa de fincar raízes no lugar.

"Nós não vamos brigar. Só vamos tomar o que é nosso, mesmo que eles (os colonos) não queiram. Não usamos armas, mas temos a força de Tupã e Tumain, que ninguém duvide desse poder", ameaçou o pajé Pedro Rodrigues. O recado tem endereço certo: os cerca de 70 agricultores assentados na área, mais conhecida como Pedra D’Água através de convênio firmado em 81 entre o Ministério da Agricultura e a Cooperativa Agropecuária de Pesqueira, responsável pelos sem-terra.

Entretanto a questão não se resume a uma simples briga entre dois grupos, que vez ou outra travam lutas ferrenhas por um pedaço de chão. Os 4.660 Xukurus ocupam 103 hectares de uma terra extremamente fértil e rica em espécies vegetais que não mais existem num raio de quase 100 quilômetros. A área é um dos três resquícios da mata Atlântica em todo Agreste e Sertão (os outros dois ficam na Serra dos Cavalos, em Caruaru, e na Serra Negra, em Floresta). Por aqui tudo o que se planta dá. Por isso toda a sorte de aventureiros veio para o local e interveio avassaladoramente na forma de viver da comunidade. Vestidos com camisetas e calções sujos, eles não deferem muito dos retirantes da seca ou dos mendigos das grandes cidades. Acampados em tendas de palha, os Xukurus espantam a desnutrição com uma dieta onde mistura, numa mesma panela, farinha de mandioca, feijão e macaxeira. Os casos de doenças preocupam, principalmente as de pele e as ligadas a carência de vitaminas. Mal alimentados, porém cercados de terra boa para plantio.

EM: Jornal do Comércio. Dia: 09 / 12 / 1990.