Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

XUKURUS ACUSAM JESUS DE TORTURAR ÍNDIOS

Os silvícolas da Serra de Ororubá, em Pesqueira, disserem ao secretário Almeida Filho que o delegado, conhecido como "Jesus", está agindo de acordo com os fazendeiros (1)

Os índios Xukurus da Serra do Ororubá, em Pesqueira, denunciaram ontem, na Secretaria de Segurança de Pernambuco, que o delegado Petrônio Góes – conhecido como Jesus – está prendendo arbitrariamente, torturando e ameaçando de morte todos os integrantes da sua tribo. O 1º cacique, José Pereira Araújo, e o 2º, Francisco Xukuru, disseram também que os policiais agem em comum acordo com os fazendeiros da região, a fim de tomarem as terras indígenas. Os índios pediram ao secretário de Segurança, Severino Almeida Filho, a demissão do delegado de Pesqueira.

Reunidos durante quase duras horas na Secretaria de Segurança Pública, aguardando a audiência com o secretário Severino Almeida, oito índios Xukurus exigiam a demissão do delegado de Pesqueira e providências contra os atos de violência que toda a aldeia vem enfrentando há alguns meses. "São 4 mil 734 índios distribuídos em 17 aldeias a 9 quilômetros da cidade de Pesqueira, diz o cacique Francisco Xukuru, afirmando que o seu povo exige o afastamento do delegado.

O começo:

Com o apoio do Conselho Indigenista Missionário - da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – os índios Xukurus conseguiram recursos financeiros para denunciar no Recife todas as arbitrariedades policiais ocorridas em Pesqueira. O representante do Cimi, Edson da Silva, denunciou também que em Buíque os índios estão enfrentando muita violência policial. "O índio Pedro Kapinan foi torturado e preso arbitrariamente", revelou Edson Silva.

Por sua vez, os índios Xukurus denunciaram que a polícia não permite a dança religiosa Toré realizada nos finais de semana. "É a nossa cultura indígena ameaçada de extinção pelos brancos", critica o cacique. Sem provas, os fazendeiros acusam os índios de ladrões. O fato ocorreu com Adelmo Ferreira Messias, preso e espancado durante quatro dias, em dezembro do ano passado.

Para o cacique Francisco Xukuru, as perseguições policiais em Pesqueira aumentaram quando os índios foram a Brasília durante o 2º turno da Constituinte. "Eles perceberam que estávamos sabendo de todos os nossos direitos na nova Constituição", daí o aumento da violência contra a gente, afirma o cacique.

Providências:

No entender do Conselho Indigenista Missionário – CIMI – a maioria das agressões sofridas por índios não mereceu até o momento providências severas por parte dos poderes executivo e judiciário, apesar das denúncias e apelos realizados. "A Funai também não contribuiu através do seu ex-presidente Romero Jucá com as metas de apoio à política indigenista", diz Edson Silva, alegando que no caso dos índios Xukurus o próprio representante da FUNAI, Gilvan Cavalcanti, de 65 anos, de Pesqueira, não quis falar em defesa dos índios com medo do delegado.

O secretário Severino Almeida, da Segurança Pública, prometeu averiguar todas as denúncias dos índios Xukuru. Ele ouviu dos indígenas as acusações contra o delegado Petrônio na presença da imprensa. "Através do diretor do Departamento Judiciário, Abel David, todas essas denúncias serão investigadas", assegurou o secretário

(1) EM: Diário de Pernambuco: 02 / 02 / 1989