Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

MATARAM NOSSO AMIGO!

 De: Henrique André Ramos Wellen (1)

Este foi a frase que escutei ontem à tarde, 20 de maio de 1998, de um amigo, chamado Chico, que trabalha como coordenador técnico no projeto de cooperação que a Universidade Estadual da Paraíba – UEPB mantém com o povo Xukuru de Ororubá, situado entre Monteiro/Pb e Pesqueira/Pe.

Falou que um amigo nosso, o grande cacique da tribo indígena Xukuru, Francisco de Assis Araújo, conhecido como Chicão, foi barbaramente assassinado às 9 h da manhã em frente à casa de sua irmã, situada no bairro Xukuru, na cidade de Pesqueira.

O assassino, ainda desconhecido, disparou 6 tiros a queima roupa, não dando nenhuma chance para Chicão se proteger. Um ato de covardia inexplicável.

Chicão, 48 anos, tinha 12 anos de cacique e dedicava-se de corpo e alma à causa de seu povo. Combatia a miséria, tentando criar condições mais dignas para seu povo conseguir sobreviver. Tornou-se grande e conhecido devido à sua coragem. Em primeiro lugar conseguiu unir seu povo. Sabendo que não era fácil: encorajar os irmãos e conseguir uma consistência quando existem ameaças por todos os lados; por fazendeiros, que tomaram suas terras sempre querem mais e pela falta de assistência dos poderes públicos que apoiam sempre mais a classe dominante.

Inicialmente eram poucas pessoas que lhe seguiam, mas com o tempo conseguiu convencer o seu povo de que poderiam ter uma vida melhor e mais digna, obtendo já, um grupo forte, firme, convicto de sua luta e certos do êxito de sua vitória.

O povo Xukuru assumiu o seu destino. Isto, antes de tudo, foi trabalho de Chicão. Essa luta não pode parar, deve sim, continuar e mostrar para todos: índios ou não-índios, que devemos lutar, quando temos um ideal.

Um líder que conseguiu unir seu povo em uma caminhada por objetivos comunitários, visando, antes de tudo, a igualdade, entre todos, defendendo que os índios têm os mesmos direitos que os outros.

Neste ponto a UEPB compreendeu o grande empreendimento do cacique do povo Xukuru apoiando-o na sua jornada.

Isto no leva a reflexão: Será que a cada dia que passa torna-se mais implícito que o lugar que devemos nos colocar diante dos acontecimentos é assistir e aceitar tudo o que existe por ai? Acomodar-se com a fome, aceitar a miséria, a desigualdade e a injustiça?

Se nos revoltarmos e não aceitarmos o que irá acontecer? Será que se tentarmos lutar por direitos iguais, iremos passar a vida toda tentando não vacilar, estando sempre de olhos abertos e analisar as pessoas sempre com duas visões, a de amigo e a de inimigo, porque a qualquer momento poderemos ser surpreendidos e isto poderá custar a nossa vida?

Mas eu me pergunto: por que sempre tem que terminar assim? A resposta está explícita nos fatos. Eles não querem que lutemos por igualdade, pois gostam muito da atual situação e querem a sua permanência. Será que nos resta só esperarmos até o dia em que enxerguem que isso é apenas uma ilusão e que não leva a nada?

Enquanto este dia não chega, eu prefiro lutar por direitos iguais do que viver aceitando tudo o que nos é imposto, mesmo que...

Henrique André Ramos Wellen é membro do Projeto UEPB / Xukuru
EM: Jornal Diário da Borborema, Campina Grande. Caderno 1 – Opinião. Dia: 28/05/1998.