Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

C H I C Ã O

De: Zenilda Maria de Araújo (1)

Nasceu na Tribo Xukuru no dia 23 de março de 1950, filho de um casal de índios: Cícero Pereira de Araújo e Quitéria Maria de Araújo.

Criado cuidadosamente pelos seus pais e querido por todos os seus familiares e parentes, crescendo no meio do seu povo e fazendo amizade.

Aos 18 anos saiu de sua aldeia para a cidade mais próxima de sua aldeia, Pesqueira, para servir o Exército Brasileiro. Passou um ano e depois voltou à sua aldeia. De volta à sua terra, encontrou a moça índia, Zenilda, por quem se apaixonou e desta paixão nasceu o amor verdadeiro. Se casou com ela.

No dia 3 de janeiro de 1970, depois de 5 anos de casado, o destino o levou a capital paulista, onde passou 3 anos trabalhando de motorista. Após estes 3 anos resolveu voltar à terra de origem, onde chegou a dar continuidade aos seus trabalhos para sobreviver, juntamente com sua esposa e 5 filhos. Depois nasceram mais 2 filhos.

Com o passar dos tempos foi escolhido, pela ciência do Pajé, como cacique. Foi feita uma reunião com as comunidades e todos o aceitaram como Cacique Geral da Tribo Xukuru. O Pajé, Chicão e vários índios, foram para o DR da FUNAI, em Garanhuns, para pedir um documento comprovando que a partir deste dia: 15 / 05 / 1989, passaria a ser o cacique do Tribo Xukuru.

A partir deste momento ele começou a fazer reuniões nas comunidades, e conversando com os índios (eles –meio cismados-) prestavam muita atenção. Pois Chicão explicava o que era ser índio e quais os direitos que tinham em benefício dos índios. Participou da Constituinte, em Brasília, em 1988, mesmo ainda não sendo cacique da tribo. A partir da sua participação na Constituinte a sua força aumentou dentro das comunidades.

Nesta época trabalhou conosco um casal do Cimi, Kiko e Ria. Foram eles que nos ensinaram a caminhar, pois nos viam parados na nossa aldeia, nós não sabíamos dos nossos direitos e nem sabíamos onde procurá-los. Aí, então, com a continuidade das reuniões nas aldeias, Chicão conseguiu unir os índios de todas as comunidades. Homens, Mulheres e meninos ficaram encorajados para lutar pelas suas terras e por tudo quanto nós temos direitos. Foi dançando o nosso Toré sagrado, o Pajé fazendo as pajelânças para que nossos antepassados nos ajudassem na nossa luta.

Um dia, Chicão voltando de uma viagem do Recife, no mês de setembro de 1990, junto com outros índios, passou o olhar pela aldeia Pedra D’Água, e a subida da Pedra do Rei de Ororubá. Veio no pensamento dele falar com o pajé e as comunidades para fazer uma retomada nesta aldeia, para preservar as matas que os brancos posseiros que, atualmente estavam morando, estavam desmatando. Aí era o lugar onde o Pajé vinha fazendo seus trabalhos religiosos, sempre sozinho, porque não era permitido aos índios fazerem seus rituais; esta área pertencia ao Estado e estava arrendada para esses posseiros que eram da Paraíba.

Então, ele conversou com o Pajé e este concordou. Fizeram reunião com alguns índios das comunidades, principalmente os mais velhos,. Todos concordaram. Então, no dia 5 de novembro de 1990 ocupamos a área Pedra D’Água, para cercar as matas. Depois de cercar as matas, resolveu-se ocupar toda a área. Reuniram-se com os posseiros para negociar, pois desocupando a área podiam procurar a FUNAI para receber suas indenizações.

Passamos 90 dias nesta ocupação com muitas famílias índias. Chicão ficou muito alegre em ver a união dos índios preservando suas florestas.

"Ficamos livres para dançar o nosso Toré, e fazer nossas orações para o Rei de Ororubá", assim falava o cacique Chicão.

A partir deste momento começou o ódio de todos os posseiros e fazendeiros contra o Chicão. Mas isso não intimidava Chicão, ele se sentia forte e encorajando os índios se sentia feliz.

Chicão, então pensou numa outra forma para dividir as tarefas de trabalho, começou a escolher em cada aldeia um representante. Assim os índios fizeram. Aí Chicão explicava para estas pessoas, que foram escolhidas pelas comunidades, qual era a sua função. Todos entendiam o que era ser um representante.

Depois Chicão pensou em formar uma Comissão Interna para dividir mais as tarefas. Fez outras reuniões e, juntamente com os representantes, escolheram 11 pessoas para assumir esta responsabilidade.

Foi assim que Chicão começou sua luta pela terra, pela sobrevivência, pela saúde e pela educação.

Mesmo com as ameaças que aumentavam dia a dia, ele não deixava de lutar, porque ele tinha um Dom dado pela Natureza.

Chicão fez sua viagem, para nunca mais voltar. Mas deixou seu exemplo de luta para todos os Xukurus. Os Xukurus tem ele na memória, com a fé espiritual que ele vive no meio do seu povo Xukuru, apesar da morte do grande líder.

A luta pelas nossas terras não vai parar, o nosso povo Xukuru tem que dar continuidade. Assim, como Chicão falava, "mesmo com a minha morte, a luta não vai parar".

Então, nós lideranças e representantes, junto com todas as comunidades, iremos enfrentar essa pesada luta, porque precisamos de nossas terras. Temos que continuar lutando pelos nossos direitos, pela nossa existência, pela saúde e educação; continuar com as nossas organizações. Nossa comunidade irá seguir o exemplo do cacique e guerreiro.

Cacique Chicão: sua luta para nosso povo Xukuru nos marcou muito, nos deixou um caminho aberto, para caminharmos e seguiremos em frente...!

(1) Zenilda Maria de Araújo é esposa do Cacique Chicão.